Toda de preto e com um tênis que
a aproximava mais de uma esteira do que do palco, Angela Ro Ro se apresentou no
anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura neste sábado (31). No alto
dos seus 62 anos, a artista carioca mais uma vez foi a grande estrela da noite.
Normal para quem possui uma voz ao mesmo tempo sexy e descontraída.
O que
mais chama atenção na performance de um dos mais misteriosos nomes da Música
Popular Brasileira é a mudança de espírito e corpo que Ro Ro viveu na última
década. Deixou pra lá a barreira dos mais de 100 quilos e incorporou uma nova mulher,
tão sarcástica quanto ontem, com umas doses a menos.
O show, que fazia parte da Série Depoimentos, traz
como princípio a alternância entre canções e perguntas feitas pela plateia (o que é totalmente desnecessário porque as perguntas são muito burras) e
por um “bobo da corte” chamado jornalista Cristiano Pinho, e tem patrocínio da
Coca-Cola. E como disse Ângela: “Já usei muita coca e muita cola. Mais que o
Pablo Escobar e o Hugo Chávez. Qual dos dois ainda está vivo?”.
Ro Ro
agarra com maestria seu passado polêmico e sua experiência de longos anos no
meio artístico para abrir a boca, ela nunca foi de se calar. Escancarou o
coração e assumiu que não voltaria mais a Fortaleza, depois que um jornal local
(provavelmente O Povo) teria estampado em sua capa de cultura que a cantora
seria “aliciadora de menores” e “traficante de drogas” há três anos. Amaldiçoou
a capital cearense, e no início da apresentação lambeu o veneno e ironizou os
detentores do “poder intelectual”. “Me arrependo (sic) de nunca ter processado
ninguém, mas vou tratar de resolver este problema ainda em 2012”, rechaçou.
Não esqueceu de comentar a falta de dinheiro, que muitos consagrados artistas de outras décadas sentem após o ostracismo causado pelas ditas "novidades". Ângela brincou com tudo dizendo, "antes andava sobre o fio da navalha, mas hoje cadê a navalha? Nem a navalha restou".
Não esqueceu de comentar a falta de dinheiro, que muitos consagrados artistas de outras décadas sentem após o ostracismo causado pelas ditas "novidades". Ângela brincou com tudo dizendo, "antes andava sobre o fio da navalha, mas hoje cadê a navalha? Nem a navalha restou".
Dentre
clássicos como “Amor, meu Grande Amor” e versão de “Ne me quitte pas”, a
intérprete, compositora e pianista deixou de lado a modéstia e atacou muitos. A
internet e até as cópias. “Tivemos agora há pouco uma cover da Cássia Eller (se
referindo a uma cantora cearense que abriu seu show)” e desqualificando a jovem.
No
fundo, o que Ângela quis nos dizer, e só muito poucos entenderam, é que ser
artistas é debochar daquilo que se faz. Se Ro Ro realmente vivesse o que canta,
já estaria nas páginas do obituário assim como fizeram Maysa e Amy Winehouse. É
preciso rir da arte que se faz, visto que é humanamente impossível levar o
personagem dos palcos para o convívio do lar.
'Destaque ao descobrir que o apelido Ro Ro de Ângela tem a ver com sua risada rouca e também que a música 'Malandragem' foi composta pra ela. Tudo faz sentido agora'.