sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Meu caos e os professores em greve

Há 57 dias os professores da rede pública de ensino entraram em greve no Ceará. Há 57 dias eu não tinha a menor previsão de como estaria a minha vida 57 dias depois.

Apesar da total falta de ligação entre esses dois fatos ainda existe uma faísca dentro daquilo que acredito que não haveria melhor momento para viver o meu novo primeiro dia.

Professor ferido em confronto com policiais na AL-CE. Fonte: Jangadeiro Online


Os professores emendam dias de manifestações em busca de melhorias em seus salários, além de melhor condições de trabalho. Na manhã de ontem (29) chegaram a entrar em forte confronto contra policiais da tropa de choque de Fortaleza, em plena Assembleia Legislativa. Alguns deles, inclusive, saíram feridos deste "encontro". Outros faziam greve de fome e, de alguma maneira, usavam o caos para fazer com que todos conhecessem suas vontades.

O caos, esta entidade sobre-humana que nos enche de prazer e dúvidas. Inconstâncias a respeito do próximo dia, hora ou segundo. Quantas coisas já foram resolvidas por conta do amigo caos.

Não se sabe se os professores, que hoje receberam um singelo apelido de "hienas" por parte do Deputado Estadual Carlomano Marques (PSDB), terão o caos promovido por eles transformado em conquistas. A greve continua e o governador cada vez mais irredutível em sua decisão.

Ao contrário de mim, que fui feliz com o caos dos últimos dias. Conheci boas pessoas e me fiz útil novamente.

Penso naquele jovem graduado, que ainda não conseguiu uma colocação segura em sua área. Que tem pesadelos com a inconstância da sua vida ou medo do fracasso. Mais especificamente aquele que escolheu a profissão como causa de luta. Que veste a camisa, apanha, passa fome, como os docentes caiçaras. Peço à eles uma única coisa: não tenham vergonha do pouco salário, do status mínimo que você recebe na sociedade, ou do que o seu desemprego representa para a sua família. Prossiga na luta! Uma luta por você.

Encare o caos como um aliado. Pinte sua face com a mais rara maquiagem. Sorria para ele e pegue-o nos braços. Angustie-se. Mas, sobretudo, o entenda como combustível fundamental para a sua existência.

Já dizia o sábio Marcelo D2, de quem sou fã, "quem nasceu pra malandragem não quer ser doutor".

P.S.: Amigos leitores, uso este espaço para incentivar o comentário de vocês a respeito do texto. Primeiramente porque um blog como este é feito para a troca de ideias. Os textos sem a opinião de vocês são só textos, com a participação transformam-se em diálogo. Depois é sempre importante saber o que se passa nessas cabecinhas! Beijos. #

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Cadê o pão quentinho da manhã?!



"Jovens matam hábito de comprar pão pela manhã", gostei da manchete. Aliás, é iminente a paixão brasileira pelos títulos dramáticos, que respingam sangue. Queremos roer as notícias, tirar delas as entranhas, mastigá-las e expeli-las do nosso corpo. É até saudável em dias de tormenta. Mas vamos lá, o objetivo deste ressurgimento ainda não é esse.

Quem de nós, enquanto seres pensantes, acompanhamos nossos avós e pais irem até a padaria da esquina, por volta das 6h da "matina", para comprar uma sacola de pães. Uhmmm! O cheiro do pão quentinho tomando conta do mundo e todos em casa com a louca vontade de devorá-lo, banhado na manteiga, com uma xícara de café doce. Confesso ser a ponta do pão minha fatia favorita (motivo de muitas brigas durante a tenra infância).

Sempre achei o ritual de sair cedinho da cama, sem os primeiros raios do sol, ir até o boteco mais próximo, encontrar os rostos dos vizinhos, o cantar do galo, o baixo movimento, um dos momentos mais charmosos do dia. Tem gente que prefere a tarde, outros a madrugada. 

Mesmo criança via naquilo tudo um momento muito exótico do dia. Pedia que meu pai me acordasse por volt das 5h30 só para subir na garupa de sua bicicleta até o mercado da cidade. No caminho conversava com os pombos. 

Não acho pretensioso pensar, em meados do século XX, mulheres elegantes, com seus terninhos bem passados, Avon no rosto, indo até a padaria "colher" o pão e o leite do dia, aproveitando-se desta rara oportunidade para caçar olhares despretensiosos de certos galãs do bairro. Também imagino os homens de boa compostura na década de 1930, debatendo Getúlio e a Guerra nos balcões das confeitarias. 

Penso no cuidado que os franceses tiveram por tantos anos em preparar o melhor pão do mundo (daí o nome do pão mais consumido no Brasil, conhecido pelo miolo branco e a casca dourada) e oferecer-lhes a Napoleão. Como o intuito de imaginar é de graça, vou mais longe, há 12 mil anos atrás, na Mesopotâmia. Imaginar que uma desventurada mistura de farinha de trigo e água já fosse uma grande celebração.

É uma pena chegarmos em um estágio evolutivo tão retumbante, onde tudo se encontra mais fácil e damos nossas tripas com a desculpa de que o trabalho nos trará os melhores momentos da vida e deixarmos passar despercebidos certos hábitos tão clássicos para o desenvolvimento intelectual. Comprar pão de manhã, bem cedinho, representa muito mais que uma mera simbologia comercial.

O primeiro jornal deveria ser aquele que encontramos na esquina. O dia a dia dos que estão ao nosso redor. Que cruzam a mesma calçada, bebem a mesma água, sofre a mesma queda de energia, reclamam das mesmas coisas. Depois viria o "Bom Dia Brasil". Vivemos uma internacionalização existencial jamais vista. Enxergamos um semelhante há 2 mil quilômetros de distância e nem sabemos qual o nome do nosso vizinho de parede.

Até que um dia, como as impagáveis máximas da vida, nos damos conta de que tudo que nos foi sugerido para comprar foi em vão e que hoje quem nos faz falta é aquele sujeito esquisito que mora ao lado (e não é o pecado). Sentimos saudades do velho pão fresquinho, banhado na manteiga e uma boa xícara de café.

Ai Gisele Bündchen, parece tão fácil né?!