quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Cadê o pão quentinho da manhã?!



"Jovens matam hábito de comprar pão pela manhã", gostei da manchete. Aliás, é iminente a paixão brasileira pelos títulos dramáticos, que respingam sangue. Queremos roer as notícias, tirar delas as entranhas, mastigá-las e expeli-las do nosso corpo. É até saudável em dias de tormenta. Mas vamos lá, o objetivo deste ressurgimento ainda não é esse.

Quem de nós, enquanto seres pensantes, acompanhamos nossos avós e pais irem até a padaria da esquina, por volta das 6h da "matina", para comprar uma sacola de pães. Uhmmm! O cheiro do pão quentinho tomando conta do mundo e todos em casa com a louca vontade de devorá-lo, banhado na manteiga, com uma xícara de café doce. Confesso ser a ponta do pão minha fatia favorita (motivo de muitas brigas durante a tenra infância).

Sempre achei o ritual de sair cedinho da cama, sem os primeiros raios do sol, ir até o boteco mais próximo, encontrar os rostos dos vizinhos, o cantar do galo, o baixo movimento, um dos momentos mais charmosos do dia. Tem gente que prefere a tarde, outros a madrugada. 

Mesmo criança via naquilo tudo um momento muito exótico do dia. Pedia que meu pai me acordasse por volt das 5h30 só para subir na garupa de sua bicicleta até o mercado da cidade. No caminho conversava com os pombos. 

Não acho pretensioso pensar, em meados do século XX, mulheres elegantes, com seus terninhos bem passados, Avon no rosto, indo até a padaria "colher" o pão e o leite do dia, aproveitando-se desta rara oportunidade para caçar olhares despretensiosos de certos galãs do bairro. Também imagino os homens de boa compostura na década de 1930, debatendo Getúlio e a Guerra nos balcões das confeitarias. 

Penso no cuidado que os franceses tiveram por tantos anos em preparar o melhor pão do mundo (daí o nome do pão mais consumido no Brasil, conhecido pelo miolo branco e a casca dourada) e oferecer-lhes a Napoleão. Como o intuito de imaginar é de graça, vou mais longe, há 12 mil anos atrás, na Mesopotâmia. Imaginar que uma desventurada mistura de farinha de trigo e água já fosse uma grande celebração.

É uma pena chegarmos em um estágio evolutivo tão retumbante, onde tudo se encontra mais fácil e damos nossas tripas com a desculpa de que o trabalho nos trará os melhores momentos da vida e deixarmos passar despercebidos certos hábitos tão clássicos para o desenvolvimento intelectual. Comprar pão de manhã, bem cedinho, representa muito mais que uma mera simbologia comercial.

O primeiro jornal deveria ser aquele que encontramos na esquina. O dia a dia dos que estão ao nosso redor. Que cruzam a mesma calçada, bebem a mesma água, sofre a mesma queda de energia, reclamam das mesmas coisas. Depois viria o "Bom Dia Brasil". Vivemos uma internacionalização existencial jamais vista. Enxergamos um semelhante há 2 mil quilômetros de distância e nem sabemos qual o nome do nosso vizinho de parede.

Até que um dia, como as impagáveis máximas da vida, nos damos conta de que tudo que nos foi sugerido para comprar foi em vão e que hoje quem nos faz falta é aquele sujeito esquisito que mora ao lado (e não é o pecado). Sentimos saudades do velho pão fresquinho, banhado na manteiga e uma boa xícara de café.

Ai Gisele Bündchen, parece tão fácil né?!

Nenhum comentário:

Postar um comentário