terça-feira, 20 de março de 2012

Os gorjeios de São Luís - Parte I


Foto: Marlos Araújo
Uma boa viagem é aquela em que nada do que você espera acontece. Ela te surpreende e só aumenta sua vontade de querer mais. Amanheci com a boa vontade de saborear mais a ilha de São Luís, no Maranhão. Pude viver naquele espaço três lindos dias da vida, que nunca sairão da memória pelos seus percalços e, sobretudo, descobertas.

Em primeiro lugar, a viagem simbolizou meu primeiro deslocamento aéreo nestes quase 25 anos. Isto mesmo! Nunca tinha entrado em um avião e isso já encheu minha barriga de um denso frio no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza. Não vai dar para esquecer as dores no ouvido por conta da despressurização da aeronave. Só na volta descobri que os bons e velhos chicletes poderiam amenizar o sofrimento, que até me fez chorar.

Cheguei à capital maranhense por volta das 2h. Após todo o processo de desembarque embarquei em um táxi na companhia do inseparável Winner. No entanto, o início do passeio começou tumultuado. Simplesmente, o motorista que nos transportava quase se envolveu em uma briga de rua e fez meu sangue gelar. Enfim, na chegada outra surpresa. Ele não usou o taxímetro e nos golpeou a custa de R$ 50. As primeiras impressões me deixaram muito preocupado. Mas que bom que era só o começo!

Hospedagem

Tive o prazer de conhecer a estrutura do hotel Ibis, a quem sempre admirei pela organização. Tudo impecável. Quarto lindo e arrumado, com TV a cabo e canais internacionais. Nas folgas dos passeios tive a TV 5 Amerique Latine como companheira. Deu até para entender alguma coisa.

Outro destaque da hospedagem é o café-da-manhã. Nunca vou esquecer-me do gosto do leite gordo com sucrilhos. Mais do que nunca exijo a reintegração dessa gordura na dieta.

Depois da péssima experiência no táxi, resolvemos alugar um carro. Tentamos pegar um ônibus, mas virou missão impossível. Acabamos dentre de outro veículo (desta vez com o velocímetro devidamente ligado) e chegamos à Localiza da avenida dos Holandeses. Apesar de mais caro, valeu a pena locar um Novo Uno com quilometragem livre. Deu para aproveitar bem vários pedaços da região, às vezes excluídos dos roteiros oficiais.

Saímos errantemente pela cidade. Praias do Calhau, Caolho, Ponta D’Areia e São Marcos. Conhecemos um pouco do centro comercial e paramos, logicamente, no Centro Histórico, um dos motivos principais que nos levou até lá.

Foto: Marlos Araújo
 Centro Histórico

Dá uma dor no peito ver que os governos não se mobilizam pelo bem de algo tão rico quanto o Centro Histórico de São Luís. Deu vontade de comprar tudo aquilo, reformar e devolver ao povo, de presente, pelo mérito de produção de uma história tão viva.

Achei um charme o nome da maioria das ruas de São Luís. Simples como Rua da Estrela, Rua do Giz, Rua Portugal, Rua do Trapiche, Avenida dos Franceses, e até a Rua Trinta e Nove, completamente cabalística.

Os azulejos, que apetecem aos olhos, se misturam com os moradores de rua. Alguns chegaram a oferecer serviços de garotas de programa, o que manchou um pouco o passeio. Porém, o sorriso de uma jovem engajada chamada Lisandra mudou os rumos da prosa.

Winner, Lisandra e eu
Lisandra, estudante de audiovisual, apresentou a “Casa de Nhôzinho”, na Rua Portugal. Um museu situado em um casarão construído no século XIX que agrega objetos do artesanato e peças do cotidiano de várias regiões do Maranhão, com destaque para as culturas indígenas e africanas, muito presentes. Também estão presentes várias histórias e lendas, como a da serpente que vive em baixo de São Luís. Segundo os antepassados, no dia em que a cabeça do bicho encontrar com a calda, que anda se espalhando a cada dia, a cidade irá afundar.

Escultura de Nhôzinho/Foto: Marlos Araújo
Já Nhôzinho foi um mestre do artesanato, que apesar de uma grave hanseníase, que deformou seu corpo, ficou conhecido por trabalhos em peças de uma famosa marca de máquinas de costura. Suas obras que remetem a movimentos humanos têm eixos impressionantes que nos fazem parar de dois a três segundos para entender sua complexidade.

Segundo nossa simpática guia, ainda há a presença de muitos boêmios no Centro Histórico que faz bombar a programação no labirinto. Não cheguei a dançar o “Tambor de Crioula” tão famoso, mas no local pude encontrar algumas boates sediadas em casarões. Algumas delas valem realmente a pena. O clima brejeiro de São Luís afasta os manequins e a ostentação de uma cidade maior, como Fortaleza, por exemplo. As pessoas até que se olham e sorriem.

Museu "Casa de Nhôzinho"/Foto: Marlos Araújo
Destaco no Centro Histórico ainda passar pelo Teatro João do Vale (lendário pelo espetáculo "Opinião" com Zé Keti e Nara Leão) e uma feirinha com cachaças e artesanato.

Depois de muitas descobertas, o primeiro dia de programação turística terminou com uma saborosa água de coco no cofo (artefato feito de palha de babaçu usado como suporte para o fruto) à beira do rio Anil.

Lagoa da Jansen

Ana Jansen foi uma importante proprietária de terras e engajada em movimentos sociais de São Luís no século passado. Apesar da lenda de que a sinhá vagueia pelas ruas da ilha numa carruagem após ser condenada por maus tratos aos escravos, ela deixou seu nome como lindo legado a uma lagoa próxima à Avenida Beira-Mar.

Nos finais de semana, à tarde, a programação começa no famoso “Botequim”, com samba e pagode ao pôr-do-sol magnífico. Aos poucos, diversos barzinhos e restaurantes vão se iluminando e a Lagoa da Jansen se torna o principal point dos jovens ludovicenses.

Regado a sertanejo universitário e MPB o local se destaca. Quem é mais alternativo procura o Centro Histórico. Agora, os fãs do brega melody e reggae encontrarão na cidade diversas opções.

Água de Coco no Cofo
Locomoção e preço baixo

Não é difícil se locomover por São Luís, a não ser que você conte com um sistema de GPS. A falta de placas nas vias complica o deslocamento, portanto evite sair sem destino sem seu devido co-piloto.

Outra característica da cidade é o preço. Nada é tão caro. A cidade está repleta de boas opções para todos os bolsos. Desde shopping centers, até franquias famosas como Subway e Bob’s.

Sem dúvida, São Luís é uma cidade viva para quem quer dar vida a ela. Cabe ao turista ter iniciativa e buscar aquilo que mais o agrada. Meu tour pela capital maranhense não acaba por aqui. Tem muita coisa que quero compartilhar com vocês. Amanhã traço uma visão mais social das marcas deixadas pela cidade. Sabia que lá as relações de “escravidão” não parecem ter acabado?!


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