sábado, 14 de janeiro de 2012

Daniela

Jaqueta de couro. Unhas afiadas. Ela desfila sensualmente no palco das expectativas onde não sabemos o que vai dar certo nem nos centímetros que tem o nariz. Desbrava as sensações. Sua frio. Mas desfila soberana. É uma mágica. Mágica sob a alcunha de Daniela. Trabalha em um circo, que para os mais críticos seria de quinta categoria, mas para mim, eterna criança, é a melhor das diversões de uma noite de sexta após ter a pupila dilatada ardorosamente por uma balconista nem tão sexy quanto a personagem desta história.

Ela tinha que fechar a semana onde tudo começou de um jeito e terminou de outro. Coisas dos homens que por machismo ou ganância não se permitem um salto alto vez em quando. Sei que nem todos se empolgaram com a astúcia de Daniela. O Mister M já fez questão de escancarar a verdade que habita os truques: a inocência. Mas mesmo assim, a moça de roupa preta não se intimida e parte pra cima da plateia.

Como naquela música "Yoü and I", da Lady Gaga, as coisas aconteceram. Cabeça de um lado, corpo de outro. Cair em garras afiadas e flamejantes já não era impossível. E o inesperado-esperado acontece: ela surge do fundo da plateia, nos exigindo pensar que toda a magia é de verdade. Desfazendo aquela boba ilusão de que ela teria ido embora, de vez, para não voltar...

Daniela teve várias notícias, de toda natureza. Foi criança, jovem e mulher. Aprendeu seu ofício e quem sabe casou. Descobriu a felicidade e depois de um tempo percebeu que ela não era tão valiosa. Desejou ser quem não era e foi, mas voltou. E estava de novo ali no palco. Desafiando a quem a intimidava. Vencendo o jogo dos mais fracos.

A mágica era como uma pena. Uma verdade. Melhor dizendo, a mágica era o imprevisível. Aquilo que temos certeza que vai acontecer, ou numa súbita maldade, desejamos que ela venha à tona para saber qual a sua explicação. E ela vem. Pena que nem todos podem contar com uma fortaleza. É bom enxergá-la de longe. Protegido pelo que eu sempre quis de escudo.

Essa semana, Daniela se apresentou pra mim e uma dúzia de pessoas. Na outra, quem dirá?! Quem queimaria a mão e afirmaria ser o próximo?! Sua essência tem grandeza. Suas vontades não têm lei. Guarda consigo a iminência e a amargura. Aguarda com sede o aplauso e o riso macabro, de quem fez o mundo ao avesso e você nem reparou.

Para a vida, um banho de experiências. Contra o imprevisível, só a morte.

"Au revoir!", disse ela.

P.S. 1: Apesar da coincidência, este texto não é direcionado a minha linda amiga-presente-tudo-de-maravilhosa Daniela Castro. Ela terá um texto mais adiante.
P.S. 2: Esse texto é dedicado exclusivamente ao Jacaré do Açude Velho, que nos deixou na tarde deste sábado (14). Sentirei saudades. #

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