segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Onde pousa o João de Barro

"Quando o João de Barro constrói a porta da sua casa contra o sol nascente é sinal de estiagem". Ouvi isso atônito em uma sonolenta manhã de sexta-feira na redação efervescente por pautas que justificassem o grandioso trabalho jornalístico. Encasquetei. De onde partem essas coisas e por que acreditar nelas?

Enquanto outras questões vinham à tona, o pequeno pássaro tão brasileiro bicava meu cérebro. Pensava no humilde sertanejo que tirava uma parte do seu tempo para perseguir ninhos de pássaros pela caatinga em busca de sinais. Depois lembrei do sítio da minha avó, na localidade de Gameleira, em Iguatu-CE. Ri quando mentalizei Dona Adelice correndo e levantando o vestido em busca de "sopros divinos" de um bom inverno.

No final das contas lembrei do que realmente mexia com o desatinado juízo. O quanto as sábias palavras dos mais velhos são importantes para mim. Sou dos que acreditam em teorias científicas, amigo de Charles Darwin e amante secreto das galáxias. Porém, me coloca em um estado de graça ouvir a sabedoria da maturidade. A arte das mãos da terceira idade, labirinto onde quase ninguém quer entrar.

Sempre transformei em filme os dizeres dos meus recém-velhinhos. Minha avó Rita cantava pra mim e me contava causos, em sua maioria fictícios, dos tempos de estradas barrentas em Assaré. Tudo era tão imaginativo e crível, que incorporei cada ensinamento no meu dia a dia e comecei a caminhar pelas estradas empoeiradas.

O meu lado vanguardista não me impede de ser do passado e honrar essa parte que grita em mim. Se estão errados, eu não sei. Quem saberá com toda a certeza? Reza a lenda de que um curioso marginal se dedicou às enciclopédias para desmentir as verdades melindrosas. No fim, bebeu as teorias com cana.

'Ó, João de Barro. Quando não tiveres lado para colocar a porta de tua casa, não se sinta envergonhado de pousá-la em minha janela'.

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