Viva a ansiedade e a espera por um bom dia de domingo. A folga almejada por 10 entre 10 cidadãos do mundo que não esqueceram que a existência não se resume ao trabalho. Como é bom pensar em um dia onde somos donos de nós mesmos e do nosso descanso.
Desde pequeno, na minha cidade, descobri que o domingo é dia de se resguardar. Segunda-feira aparece sorrateira e perigosa, precisamos estar bem preparados para deflorá-la. As manhãs, com trilha sonora do Padre Zezinho, eram um prenúncio de um dia tranquilo. Que nem sempre era. Os percalços do álcool alheio ou uma briga entre vizinhos gostava de manchetar o dia de entrega à existência.
Seja de rede, cama, sofá, ou cadeira de balanço ele era vivido com intensidade. Não sei, sinceramente, o que faz uma pessoa idolatrar a labuta e sentir falta do estresse diário. Para mim, mais fundamental que o trabalho é a folga, o ócio produtivo, que me permite acordar da Matrix e enxergar o que está por detrás das entrelinhas. Caso meus chefes percebessem isso me dariam folgas e folgas, visto que tal combustível elevaria exponencialmente minha criatividade.
Mas, nem sempre de glórias os domingos são formados. A presença da mídia e a vontade de se fazer tudo em pouco tempo tem deixado a humanidade ansiosa. Essa autodestruição faz com que cheguemos a conclusão de que todo o tempo é pouco. E que precisamos ganhar mais dinheiro. E que precisamos fazer mais horas extras para que as datas comemorativas cheguem logo e passem logo.
Há muito não percebo nos olhares as expectativas das grandes comemorações. É carnaval e as praças não têm decoração. As crianças não compraram fantasias. Ninguém tocou marchinha. E o comércio não pára. Assustou-me um anúncio da festa de ressaca do Carnaval. Estamos matando a vida de véspera. Estamos ejaculando precocemente as possibilidades.
Um teórico, a quem me afeiçoei nos últimos tempos, anda dizendo que não possuímos condições suficientes de manter laços ou amar alguém. "Ame ao próximo como a si mesmo". A frase perde o sentido quando nem sabemos o que é amor e, segundo, quando não calculamos o real amor que temos por nós mesmos.
Enquanto o domingo está aí de braços abertos para nós. Passeios públicos, praias, bicicletas, comidas deliciosas, sorrisos de mãe. Estamos aqui, lendo este texto. Sei o quanto a audiência é importante para um trabalho como o meu, mas estou certo de que se meus leitores deixassem meu blog por uns instantes para viver a vida e olhar nos olhos de quem amam, eles voltariam mais e mais vezes, compartilhariam comigo todos os seus anseios e estariam debatendo arduamente o que nos falta para a suprema felicidade.
Lembro agora de uma menina que quer tudo e nada ao mesmo tempo. Ela já pensou em tudo o que seria possível para tirá-la da angústia da ansiedade e ser dona de sua própria vida. Mas compartilha com meios que não lhe trazem as respostas suficientes. Pobre.
Enfim, mais um domingo se passou e mais um domingo chegará. A semelhança é que cada semana que passar vamos ouvir de todos que este dia já não é mais suficiente. A existência já não é mais suficiente. O que nos resta é a ansiedade de viver o que está por vir a cada novo minuto.
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Um dia de domingo. Quando o dia amanhece esticado, sem pressa e com vontade de chegar à conclusão de que nada existe além da sua cama. Cafuné de lado, sorrisos sonolentos de outro. Vamos esperar a natureza. Pé com pé. Perna na perna. Zumbidos e agrurinhas. Tão fofinhas e irresistíveis.
Sinto o sabor da manhã, os raios de sol, como naquela música onde os pingos da chuva bailam como Fred Astaire. Vem o 'white coffee' com uma amanteigada torrada e os assuntos que não querem calar. A cantora que morreu, o jogo que está por vir, as histórias contadas durante toda a semana, as farras que fazem a diferença, os projetos para o futuro e a esperança de muitos e muitos domingos.
Um cochilo daqui, ou uns posts no Facebook?! É bom olhar os amigos por trás da tela de vidro quando você quer estar sozinho. Fazendo seu dia. Olhando para os livros, lendo um pouco e interpretando muito. Nada de muitas roupas, um shortinho de jogador, sem camisa mesmo. O que não pode faltar é o cabelo assanhado, que se penteia à espera do almoço.
Banquete regado a uma cervejinha e pelo ar delirante de quem se ama. Tem de tudo um pouco. Drama, emoção, carinho, temor. Tem de tudo que a vida faz novela e que dá gosto de cantar. É um caminho perverso e gostoso até o final da tarde. Chega a concentração. Um pouco de TV ou DVD. E lá se vai o domingo melancólico. O dia de descanso que ninguém descansa. O que há de errado?! Eis o mistério da fé. Eis a verdade da existência.
Tudo é lindo e ousado. Mas poderia ganhar cores ainda mais vibrantes se não permanecessem somente no áureo e fumacento mundo das especulações. Que ingrato então?!
domingo, 12 de fevereiro de 2012
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