Pouco depois que nasci foi assinado o contrato que daria
início ao processo de construção do metrô de Fortaleza. Na época, o papel
assinado pelo Governo do Estado, a extinta Rede Ferroviária Federal, Sociedade
Anônima (RFFSA) e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) despertou em
muitos alencarinos o sonho de um novo meio de transporte para desafogar a
chegada ao trabalho, ao comércio, aos estudos e, quem sabe, ao lazer.
Enquanto se pensava que os trens seriam suficientes para
levar a Fortaleza aos quatro cantos não se imaginava que quase 25 anos depois
ainda estaríamos em ônibus lotados. Pois é, o Metrofor é meu contemporâneo e,
como eu (e você), enfrentou muitas crises até tomar forma.
Nestes anos que se arrastaram lentamente a falta de pulso
firme do poder público fez com que as obras emperrassem e o futuro de um
transporte limpo e barato fosse adiado, até chegar ao campo da imaginação.
Virou piada andar de metrô na Capital, o que pode ser considerado um dos
grandes atrasos de uma sociedade que quer estar à frente das outras,
principalmente das do interior do Estado.
A construção do metrô teve seu investimento inicial
triplicado com o passar dos anos. Em quatro deles nenhum operário movimentou
uma pedra. O Tribunal de Contas da União, em 2009, pediu que a empresa
responsável pelas obras parasse para que um superfaturamento de R$ 65 milhões
fosse investigado. Nada aconteceu.
Daí apareceram impasses sobre a demolição de prédios
históricos, retirada de comerciantes do popular Beco da Poeira, dentre outros
probleminhas de percurso. Com os olhinhos brilhando víamos os vagões chegando
da distante Europa. Aos poucos, os trilhos começaram a ganhar as páginas das
propagandas governamentais, o que para alguns é sinônimo de progresso.
Mas, faltando pouco tempo para a efetivação da Linha Sul
ainda não foi debatido o que de fato é importante. Se a espera pelo transporte
coletivo já foi tão grande, é preciso pensar o que fazer com ele a partir de
agora.
Deixando de lado os fatores políticos, outro impasse que
compromete a boa utilização do metrô de Fortaleza cabe a cada um de nós. Nossa
cultura está preparada para tal inovação? Saberemos respeitar as regras e nos
deixar impor às condições necessárias para transformar o transporte em um
espaço civilizado?
A proposta revolucionária faz sucesso em grandes cidades.
Quem nunca ouviu falar no sonho que é o metrô de Paris, que além de um espaço
público é patrimônio cultural. Os “subways” londrinos e os túneis de Nova
Iorque, sempre retratados em filmes e publicidade. A única chance que tive de
andar neste tipo de meio de transporte foi em Recife, e causa apreensão pensar
que a proposta não seja bem entendida.
Enquanto princípios como a responsabilidade com o bem
público e a importância de sua conservação realmente não chegar à mídia e,
consequentemente, às rodas de conversas a sociedade estará à mercê de um grande
e doloroso insucesso. Os ônibus, definitivamente, nunca deram certo pra valer.
Muita discussão virá à tona nos próximos meses.
Principalmente às vésperas de junho deste ano, prazo dado pelo Governo para
inaugurar a obra. Mas, já se pode começar a exercitar a “mufa” e debater de que
maneira a obra que completou 13 anos de vida não morra tão cedo.
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