Em 2009, um gênio da nossa música popular também comemora 50 anos de carreira. Muita gente esquece, mas o companheiro do nosso querido Roberto também foi página importante pra construção do que hoje conhecemos por música brasileira. Só que, com uma pequena vantagem, ele se permitiu transpor algumas barreiras de sons impostas pelo movimento da Jovem Guarda e se tornou um dos pilares do Rock Nacional. Tanto que comemorou essa data com o lançamento de um álbum de inéditas, "Rock'nRoll" com 12 inéditas. Será homenageado no VMB desse ano.
Erasmo Carlos concedeu uma entrevista coletiva no mês de junho desse ano, na qual pude participar e tietar um pouco (rs!). Falou um pouco de suas influências, além de opinar a respeito do novo cenário de Rock'n Roll no país. Também falou de seu livro, que contará um pouco dos bastidores desse meio século de carreira.
Vamos ler um pouco das sábias palavras desse mestre. Se Roberto Carlos é o rei, com certeza Erasmo é o 1º Ministro.
ARENA - Quais são suas grandes influências no Rock?
ERASMO CARLOS - Eu tenho grandes influências de grupos vocais da minha época. Indivualmente Chuck Berry, L. Richard e coisas assim. Ray Charles também. Eu me considero um compositor que canta, gosto de interpretar as minhas músicas porque eu tenho o meu jeito. Não acho honesto eu interpretar múscias de outras pessoas, gosto mesmo de interpretar as minhas músicas.
ARENA - Na sua opinião, o movimento da Jovem Guarda pode ser considerado o iniciador do Rock no Brasil?
EC - Não sei direito, pois a Jovem Guarda foi uma beatlemania brasileira. E tem influência do rock'n'roll básico e a influência daqueles que gravaram antes, uma turma que veio. Nós apenas descobrimos e demos força, o nosso grande mérito foi acreditar no rock feito em português, acreditar nas letras brasileiras, saber investir neste filão, o que deu certo pra caramba. O nosso mérito é por aí, nós fortalecemos esta idéia do rock tupiniquim.
ARENA - Quem faz rock hoje em dia? E quem não faz?
EC - Tem uns roqueiros que gosto pra caramba. O Luiz Carlini é um, um roqueiro ambulante, se veste de roqueiro. Ele veste a roupa mesmo. Tem muita gente. O Ultraje. E pessoas que fazem coisas com influência, porque o rock ficou uma coisa tão variada com tantas influências e ritmos que gosto de uma infinidade de pessoas pelo Brasil. Adoro Paralamas, Barão, Jota Quest... para mim tudo é rock, baladas são rock também. Tenho uma visão geral de rock, gosto muito destas pessoas. Rita Lee também, o Lulu.
ARENA - O que você acha das novas mídias digitais e fenômenos como a pirataria?
EC - Sobre os downloads e a pirataria, por um lado é uma maravilha, agora, por outro lado é uma sacanagem com quem faz as músicas. Porque o cara é um autor, tem os músicos, os técnicos e não é justo a música ser cedida de graça, por melhor que seja um monte de gente ter acesso. Em uma resposta impetuosa e inconsequente, muitos intérpretes dizem que querem baixar as músicas porque eles faturam com shows. O que não é verdade, lembrem-se de compositores que nãopodem faturar por shows, lembre-se do Dorival Caymmi que não podia fazer shows. Então é uma incoerência quem pensa assim. Agora, tudo o que está acontecendo foi a internet quem criou e acho que a própria internet irá achar uma solução para isso.
ARENA - Se fosse para você escolher outra área que não fosse a música? Qual seria?
EC - Fotografia, cinema, pintura, escultor etc. Toda a profissão que me desse condições de criar, assim eu ficaria muito feliz.
ARENA - Erasmo,como e onde surgiu seu super conhecido apelido de "Tremendão"?
EC - Na época da Jovem Guarda criou-se uma grife chamada Tremendão, a minha grife. Tinha a grife Calhambeque do Roberto e Ternurinha da Wanderleya. Tremendão quer dizer cara grande, zuador, na gíria paulista, conheço esta gíria desde pequeno. É bem antiga. O time do Palmeiras foi chamado de Tremendão também na década de 60. E de tanto fazer propaganda da minha marca o meu apelido virou Tremendão.
ARENA - Como se deu o processo de ciração do seu livro? Quando será lançado? Já tem título? Estamos curiosos.
EC - O meu livro tem previsão de ser lançado em outubro, é de memórias soltas de minha vida, a editora Objetiva está organizando tudo. Não tem que rimar é muito legal. Outra coisa que não deu certo é digitar, ainda tenho máquina de datilografia. Porque as mãos não acompanham a velocidade da minha mente, prefiro escrever como se eu estivesse psicografando, escrevo sem tirar a caneta do papel. É legal, a minha imaginação vai embora, não termina. É uma maravilha para uma pessoa que se sente só, é uma coisa bonita escrever. Escrever é uma bola de neve, começa com um conto, daí se lembra de outro, um amigo te lembra de outro. Comecei escrevendo um e daqui a pouco eu vi que tinha mais de 300 e tive que reduzir para 60. O livro se chama "Minha Fama de Mau".