O amor e o desejo. Paradoxos tão vivos na mente de muitos. Já foi bem reproduzido no livro do Arnaldo Jabor que deu origem a música interpretada por Rita Lee. O amor, ser endeusado e que vive em cima de uma nuvem no cantinho do céu. O desejo, o promíscuo sentimento servido como um foundie nas profundezas do inferno. Maldita mania de segregação dos seres humanos.
Caindo em si percebo que os dois não podem caminhar separados. Não podem. Seria mentiroso ao dizer que pretendo amar e jamais ver minha cama pegando fogo. Sentir ciúmes. Chorar e bater na parede de raiva por um momento de desentendimento. E, no fim, correr para os braços do amor em busca de reconciliação, resolvida em ardente noite de luxúria. Quem não sente um friozinho tímido na barriga ao imaginar essa cena.
Quem também não quer ser desejado? Perseguido? Odiado por não corresponder?
Vivemos em função do desejo eterno. De nos sentirmos vivos diante de parceiros amorosos em potencial. Por isso nos guardamos e nos cuidamos para prolongar o quanto mais nossa juventude. Saúde? Todos correm para as academias para ficarem desejáveis.
Força nos braços para não deixar a fêmea fugir. Peitos musculosos para a fêmea se sentir acalentada. Glúteos sensuais para o singelo movimento da dança da conquista. Assim funciona o jogo. O suor desce e o desejo se expande.
A sedução surge no olhar. Um olhar safado, nunca acolhedor. O impacto de uma boa encarada, um movimento de lábios esboçando um sorriso sem vergonha, um toque. Essa é a física.
A química está no cheiro da mulher desejada. No suor que desce pelas costas do rapaz. E essa troca nos contenta, faz com que caiamos num redemoinho de dúvidas até que chega o outro momento, o outro e o outro. Quando percebemos, estamos completamente entregues.
Encontros são aguardados. Sorrisos compartilhados. Bobagens faladas. Tudo esquecido no primeiro suculento beijo. Tão aguardado. Tão nervoso. Mas que tira um peso de suas costas ao sentir que o objeto de conquista agora está nos seus braços.
Tudo é mais bonito. Você quer vê-la a qualquer hora. Quebra sua rotina. Falta aos compromissos. Passa até a usar o relaxado celular com maior frequência. E tudo vai fluindo até aparecer um terceiro, que lhe impõe ciúme e lhe aquece a tentar reconquistar sua presa cada dia mais.
Você se faz presente. Oferece o que jamais poderia colocar em prova. E ama. Completamente ama. Até o dia em que ela acha que o outro vale bem mais a pena que você.
E você sofre. Despedaça-se sem piedade. E chora.
Entrega-se à primeira alma viva que aparece. Até pôr a vida inteira no lugar novamente. Para daí, começar tudo outra vez.
Taí o poder de renovação do ser humano.
Desejar, ser desejado e fazer com que isso nunca pare de acontecer. Esse é o tão falado "amor-próprio". Essa é a drenagem que mantém nossas velhas veias pulsarem. É isso que nos faz sentir ser homem ou mulher.
"Para realmente amar uma mulher, para compreendê-la,
Você precisa conhecê-la profundamente por dentro.
Ouvir cada pensamento, ver cada sonho
E dar-lhe asas quando ela quiser voar.
Então, quando você se achar repousando,
Desamparado nos braços dela,
Você saberá que realmente ama uma mulher..."